Não é de hoje que me pego pensando na importância que o
nosso grupo – não apenas o virtual, no Whatsapp – tem em minha vida. E creio
eu, em nossas vidas, irmãos boleiros do norte. Falo sobre essa rede de amigos
que formamos, bem sólida, viva, que aproxima há quase 10 anos gente boa de semelhante,
nesse quesito, por meio do futebol, do entretenimento, dessa paixão que nos
iguala. Universitários, estagiários e posteriormente trabalhadores, e até mesmo,
por ora, desempregados, somos nós, amigos da pelada e, até antes dela, para a
vida.
Somos nós, como diria o mestre que recém nos deixou
Belchior, rapazes latino-americanos, sem dinheiro no banco, sem parentes
importantes e vindos do interior. Vindos de São Mateus, de Nova Venécia, do
Norte de nosso distinto Espírito Santo, para correr atrás de melhores oportunidades.
Na Capital, agregamos valores aos nossos, aprendemos, conhecemos e agregamos,
também, os metropolitanos para o nosso convívio diário, sempre a partir dos
imperdíveis clássicos no Gigante de Santa Lúcia. Tantos falam, como eu também,
e repito: futebol nunca será um simples jogo.
Às quintas, segundas, terças, perto de meia-noite ou pouco
depois do trabalho, já mudamos de horário, de local, de bola. Mas a nossa essência
permanece, sempre a mesma. Informalmente fazemos avaliação para que um novo
pretendente ganhe nossa confiança e possa fazer parte de nossa pelada. Os
critérios? Simplicidade, compromisso, respeito, e, de preferência, noção de
bola. Não serei hipócrita. E é assim que vamos ganhando cada vez mais adeptos e
integrantes – sim, sabemos o quanto admiram o nosso grupo. Os desafios da vida
nos distanciam de alguns que fazem muita falta. Saíram de perto, momentaneamente
ou não, para disputar competições bem desafiadoras, colocar em prática
projetos, sonhos, alegrar também outros grupos. E eles estão no nosso hall dos
boleiros. Torcemos um pelo outro, até porque o futebol é coletivo. Um só vence
se todos vencermos, juntos.
Temos, hoje, laços firmes, mais fortes até que imaginávamos
quando começamos a jogar. Amizades foram formadas, boleiro divide república com
outro; sou, graças sobretudo ao convívio que a pelada nos deu, padrinho do
filho de um grande amigo boleiro; primos de uma querida família se tornaram
nossos irmãos; os rocks, as geladas, as resenhas, as tabelas, as crônicas, os
uniformes, os churrascos, o nosso gostoso dia a dia tão nostálgico para uns, e
tão presente para outros. Como diz um irmão boleiro, brincalhão e sensível a
nossa amizade, valorizemos essa família que formamos, os momentos, as peladas –
muitas vezes um dos poucos lazeres que temos e oportunidade para estarmos com
quem nos sentimos bem. Queria escrever estas palavras para vocês, fui postergando,
mas esta mudança que já sabem me instigou a reverberar o quão essencial são
para mim. Mantenhamos essa prática, essa rotina prazerosa, essa união. Porque
eu fui ali, mas já volto. E quero logo estar novamente em campo e no dia a dia com
vocês. Obrigado, a cada um, de coração.
Do boleiro Raia, Ursão, Big Bear, Presida, o seu amigo.